Investigadores de tragédia do Douro denunciam voos rasantes de ‘turismo’ no regresso dos fogos

Caso do helicóptero que caiu faz sábado um ano no rio, em Lamego, matando cinco
militares da GNR.

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Os investigadores do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com
Aeronaves (GPIAAF) identificaram inúmeros casos de helicópteros de combate a
incêndios que, no regresso de missões canceladas, se desviaram da rota direta
para o centro de meios aéreos e voaram desnecessariamente e a baixa altitude
sobre “zonas de interesse paisagístico”. Um “relaxar dos procedimentos”
normalizado e aceite por todos: pilotos e equipas de helitransportadas de
combate a fogos. “São práticas observadas com alguma frequência” e que fazem
aumentar o risco das missões. “Se evitadas, poderiam ter impedido a ocorrência”
– a morte de cinco militares da GNR quando o ‘héli’ em que seguiam de uma missão
abortada em Baião regressava a Armamar e caiu no rio Douro, em Cambres, Lamego,
faz sábado um ano. O GPIAAF publicou quinta-feira o relatório final do acidente
que teve o piloto do helicóptero, Luís Rebelo, como único sobrevivente. Este
homem foi constituído arguido em julho e é investigado pela Judiciária, estando
indiciado dos crimes de condução perigosa de meio de transporte por ar e
homicídio negligente.

Tal como o CM adiantou a 18 de agosto, a investigação apurou que, ao contrário
do que o piloto sempre alegou, não há indícios de que tenha havido uma avaria na
aeronave ou que se tenha desviado de uma ave antes de colidir com a superfície
do rio a cerca de 131 nós (242 km/h), num choque de 24,3 G’s, matando os cinco
GNR: três com o impacto e dois afogados. Luís Rebelo desrespeitou a altitude
mínima e desviou-se da rota, aumentando sem justificação o risco do voo – tal
como já havia feito duas vezes, na mesma zona, duas semanas antes, uma delas a
apenas dois metros da água. Não explicou porquê o fez, disse apenas que várias
vezes se desviava a pedido dos GNR e que essa era uma prática aceite entre
todos, o que foi confirmado por outros pilotos de bases de todo o País. A
investigação refere como “possível admitir com elevado grau de certeza que as
condições de reflexo da superfície da água poderiam impactar na capacidade de
julgamento do piloto relativamente à altura à água na escolha da trajetória do
helicóptero”. 

Voava com 82 kg de peso a mais

O helicóptero estaria “a voar com 82 kg acima da sua massa máxima autorizada”,
concluem os investigadores do GPIAAF, que chegaram a esse valor através do peso
do combustível e dos tripulantes e material de sapador que carregavam. Isto uma
vez que o dado inicialmente era de 67,6 kg de média por cada ocupante, “valor
claramente subestimado”. “Situação determinada como recorrente não só na base de
Armamar como nas restantes 47 CMA”, refere. Esse “carregamento do helicóptero
fora dos seus limites operacionais definidos pelo fabricante tornam imprevisível
o seu comportamento dinâmico em voo”.

Piloto não fez teste de álcool ou drogas

Os exames toxicológicos nas autópsias aos cinco GNR “excluem qualquer
intoxicação por etanol, drogas de abuso ou medicamentos”. “Por motivos que a
investigação não conseguiu apurar, não foram realizados ao piloto testes de
despistagem para as mesmas substâncias no processo de admissão e internamento
hospitalar, embora tenha sido feita a recolha de sangue para o processo
cirúrgico e internamento”, assinalam os investigadores.

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